sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A diferença entre inocente e justo

 O Problema

É comum a idéia de que uma pessoa `inocente' também é `justa', como se estas duas palavras `inocente' e `justo' fossem sinônimas, porém, do ponto de vista bíblico não é correta está correlação entre as duas palavras.

 A bíblia ensina que inocente é o mesmo que justo? Uma criança recém nascida é inocente e justa? Um inocente pode não ser justo? O ímpio pode ser inocente?          

 Analisemos algumas passagens bíblicas.

 As Crianças de Sodoma e Gomora

 Observe este diálogo entre Deus e o patriarca Abraão: "Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles" ( Gn 18:25- 26 ).

 Este diálogo é muito conhecido, porém, é comum não serem feitas as seguintes perguntas: havia inocentes nas cidades de Sodoma e Gomora? As crianças das cidades de Sodoma e Gomora não eram inocentes, e por que elas foram destruídas? Elas, apesar de serem inocentes, também eram ímpias, uma vez que foram destruídas?

 Consideremos o que Deus disse a Abraão: "Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles" ( Gn 18:26 ). Deus garantiu a Abraão que, se houvesse dentro dos portões das cidades de Sodoma e Gomora pelo menos dez justos, não destruiria as cidades! ( Gn 18:32 )

 Como bem sabemos, as cidades de Sodoma e Gomora foram destruídas, pois os três justos que haviam na cidade foram resgatados de lá, ou seja, Deus demonstrou que jamais destrói o justo com o ímpio, e que o juiz de toda a terra efetivamente faz justiça, pois não trata os justos como trata os ímpios ( Gn 19:16 ).

 Após observar as garantias que Deus concedeu a Abraão "Não a destruirei por causa dos dez" ( Gn 18:36 ), e o resultado final, a destruição de Sodoma e Gomora ( Gn 19:25 ), chega-se a seguinte conclusão: diante de Deus, ser `inocente' não é o mesmo que ser `justo', pois, se os inocentes fossem justos, ambas as cidades não seriam subvertidas devido às inúmeras crianças que haviam naquelas cidades.

 Neste mesmo diapasão, o que dizer de milhares de crianças `inocentes' que foram mortas no dilúvio, sendo que somente Noé foi declarado justo por Deus ( Gn 6:9 ; Gn 7:1 ; Hb 11:7 ).

 Que dizer dos filhos de Acã? Eles também eram ímpios, mesmo sendo inocentes? ( Js 7:24 ). Os primogênitos do Egito não eram inocentes? ( Ex 12:29 ).

 Através destes eventos é possível determinar que, ser inocente não e o mesmo que ser justo, e que ser justo não é o mesmo que ser inocente.

 Os inocentes

 Geralmente a bíblia utiliza a palavra `inocente' para designar uma pessoa ingênua, ou desavisada, como se lê: "Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" ( Ex 20:7 ), ou seja, após receber o alerta solene "Não tomarás o nome do Senhor em vão", o homem deixa de ser inocente.

 Qualquer que utilizasse o nome de Deus em vão não mais seria considerado inocente, pois foi alertado.

 Ora, se qualquer que for avisado pelo Senhor deixa de ser inocente, temos que Adão nunca foi inocente, pois ele foi avisado por Deus do mau, mas resolveu por si mesmo passar, e como conseqüência sofreu a pena "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" ( Gn 2:17 ).

 Por causa do alerta solene Adão deixou de ser inocente, porém, continuava sendo um homem justo e sem conhecer o bem e o mal. Após desobedecer, Adão deixou de ser justo e passou a ser como Deus, conhecedor do bem e do mal.

 O alerta divino acerca das conseqüências em ser participante da árvore do conhecimento do bem e do mal arrancou a inocência de Adão. A desobediência de Adão arrancou a sua justiça, e a partir daquele momento passou a ser como Deus, conhecedor do bem e do mal.

 Ou seja, a inocência de Adão foi perdida muito antes de ele conhecer o bem e o mal. A inocência não se perdeu após a transgressão, ou seja, antes mesmo da ofensa Adão já não era inocente por causa do alerta solene de Deus.

 Salomão alertou: "O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena" ( Pv 27:12 ). Ou seja, o aviso torna o homem apto para ver o mal, e este, por sua vez, deve se esconder. Em contra partida, o simples, o desavisado, o inocente, passa e sofre a pena! Por quê?

 É comum os homens atinarem que o inocente não deva sofrer a pena, mas a bíblia demonstra que a pena não passa do simples (inocente) "O prudente prevê o mal, e esconde-se; mas os simples passam e acabam pagando" ( Pv 22:3 ).

Mesmo os inocentes são passíveis de punição, mesmo as criancinhas inocentes são tratadas como os adultos, pois ambos são ímpios diante de Deus, e sofrem a pena: destituídos da glória de Deus.

 Uma Criança pode ser considerada justa?

 Após esta abordagem inicial, sobrevêm inúmeras perguntas: como é possível uma criança não ser justa, se ela é inocente? A partir de que idade uma criança é considerada ímpia? Qual a base da justiça de Deus ao destruir crianças e adultos? Etc.

 As alegações de Abraão são verdadeiras: "Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?" ( Gn 18:25 ), pois Deus mesmo diz: "De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio" ( Ex 23:7 ).

 ·         O juiz de toda a terra faz justiça;
·         Ele faz distinção entre justos e ímpios;
·         Deus não mata o justo com o ímpio, e;
·         Deus não declara (justifica) o ímpio como sendo justo.

 Quando Deus recomendou ao povo de Israel algumas questões de direito, Ele orientou para que guardassem da falsa acusação, e que a pena capital não devia ser aplicada ao inocente e ao justo "De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio" ( Ex 23:7 ).

 Este verso estabelece uma diferença significativa entre justo e inocente, pois se `justo' e `inocente' fossem maneiras distintas de fazer referência a uma mesma condição, Deus não estabeleceria a distinção: não matarás o inocente e o justo ( Ex 23:7 ).

 Tudo começou com Adão, o primeiro pai da humanidade. Através dele a humanidade lançou mão de uma condição miserável. Por causa da ofensa dele todos os homens pecaram, e em um só evento, todos juntamente se desviaram de Deus ( Sl 14:3 ).

Adão foi criado por Deus santo, justo e bom, ou seja, ele compartilhava da natureza de Deus. Adão existia em comunhão com a Vida e compartilhava da glória de Deus.

Porém, Adão foi avisado por Deus que, no dia em que comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, que estava no meio do jardim, haveria de morrer ( Gn 2:17  ).

Embora santo, justo e bom, Adão nunca foi inocente (ingênuo), pois foi alertado quanto as conseqüências de sua decisão "O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena" ( Pr 27:12 ).

Adão foi avisado e não se escondeu do mal, ou seja, por ter sido avisado, ele já não era simples, ou seja, inocente.

Há diferença entre `inocência', que é ingenuidade e pureza, e `inocência', que é estado de quem não é culpado, significado que é próprio aos tribunais. Não podemos confundir os significados da designação `inocência', pois é essencial para a interpretação bíblica.

Para o Dr. Scofield houve a dispensação da inocência, ou seja, `o homem foi criado em inocência, colocado em um ambiente perfeito (...) e advertido das conseqüências da desobediência' Bíblia de Scofield com Referências, explicação a Gn 1:28  . Ora, como foi avisado por Deus, Adão já não era mais `simples' (inocente, ingênuo), mas não era culpado, ou melhor, segundo a linguagem utilizada nos tribunais `inocente'.

Deus criou o homem do pó da terra ( Gn 2:7  ), colocou-o no Jardim do Éden para lavrá-lo e guardá-lo ( Gn 2:15  ), e foi alertado por Deus quanto a árvore que estava no meio do jardim ( Gn 2:17  ). Adão foi criado puro (inocente, inculpável), santo e bom, e alertado (não mais inocente) quanto ao perigo de se comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Porém, apesar de avisado, tanto a mulher quanto o homem preferiram dar ouvidos à serpente: "Certamente não morrereis" ( Gn 3:4  ). Não dar ouvidos (credito) a palavra de Deus alienou (extraviou) o homem do seu Criador. Após atender a palavra de Satanás, o homem deixou de compartilhar da vida e da glória que há em Deus.

O Homem morreu conforme a palavra do Senhor ( Gn 2:17  )! A justiça divina não tardou: o homem foi julgado e apenado com a morte "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação..." ( Rm 5:18  ).

A morte é alienação de Deus.  Por causa da lei santa justa e boa que diz: `... certamente morrerás' ( Gn 2:17  ), o pecado encontrou ocasião na força da lei estabelecida por Deus, e por ela aprisionou o homem ( 1Co 15:56  ). Sem a lei que diz: `certamente morrerás' ( Gn 2:17  ), não existia para o homem a possibilidade de alienação de Deus, ou seja, o pecado estaria morto ( Rm 7:8  ).

 Os ímpios

 Mas, porque os infantes de Sodoma e Gomorra, mesmo sendo inocentes, mentalmente e fisicamente incapazes de fazer o bem ou o mal não foram poupados por Deus? Por que não foram tidos por justos?

 É fato: Deus prometeu que se houvessem dez justos nas cidades de Sodoma e Gomora não a destruiria, porém, apesar de inúmeros inocentes, a cidade foi completamente destruída, o que nos deixa uma mensagem clara: as crianças não são justas, apesar de serem inocentes!

 As cidades de Sodoma e Gomora foram destruídas porque todos os homens foram formados em iniqüidade, todos foram concebidos em pecado ( Sl 51:5 ).

 O salmista Davi profetizou dizendo que todos os homens se desviaram e que juntamente se fizeram imundos ( 1Cr 25:1 ; Sl 53:3 ). Mas, onde e quando ocorreu o desvio, ou seja, a alienação da humanidade de Deus? Qual a idade que o homem passa a estar alienado de Deus?

 A bíblia afirma que os homens alienaram-se de Deus desde a madre, e que andam errados desde que nascem, e segundo os seus corações falam mentiras ( Sl 58:3 ; Mt 12:34 ).

 Dentre os filhos dos homens não há ninguém que tenha entendimento e que busque a Deus ( Sl 53:2 ), e nem mesmo as crianças são apontadas como exceção a regra.

 Profeticamente o salmista Davi escreve uma oração ao Senhor que retrata o anseio do Messias: "Ó Senhor, com a tua mão, livra-me dos homens do mundo, cuja porção está nesta vida. Enche-lhes o ventre da tua ira entesourada. Fartem-se delas os seus filhos, e dêem ainda os sobejos aos seus pequeninos" ( Sl 17:14 ).

 Os `homens deste mundo' referem-se aos filhos de Adão, e tudo que possuem restringe-se a este mundo. A ira de Deus está reservada aos homens deste mundo, conforme demonstra o apóstolo Paulo "Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça" ( Rm 1:18 ).

 A informação acima é de conhecimento geral, porém, o mais interessante é a informação a seguir: "Fartem-se delas os seus filhos, e dêem ainda os sobejos aos seus pequeninos" ( Sl 17:14 ). Os filhos dos homens deste mundo também se fartarão da ira de Deus, e mesmo os seus pequeninos sobejarão da ira entesourada por Deus.

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